Falta fazer, eu sei.
a pia me olha com cara de “e aí?”
Lembretes piscam no celular
e eu finjo que não vi.

falta agir, sair do ensaio,
parar de o quê, começar o agora.
desenhar menos seta no papel
e virar esquina com o corpo.

falta ser, simples assim,
sem filtro, sem pose, com ou sem “tá tudo bem” automático.
respirar fundo e caber em mim,
mesmo quando eu erro o meu próprio nome.

falta corrigir, sem castigo,
só com calma e lápis macio.
apagador de culpas,
rabisco de recomeço.

falta me perdoar,
pelos nãos que eu dei a mim,
pelos “depois” que viraram nunca.
abraçar o tropeço, chamar de recomeço.

falta assumir, eu sinto medo.
mas medo também aprende a andar comigo,
de mão dada, passo curto,
até acertar o passo.

falta ser melhor, é verdade,
não pra brilhar mais que o mundo,
só pra dormir em paz com a minha história
e acordar um pouco mais inteiro.

e enquanto falta, eu caminho.
devagar quando dói, rápido quando dá.
café morno, sol na cara,
um sim de cada vez.

não tô pronto, tô vivo.
e isso já é muito.
tanta falta me habita,
mas eu também
estou no caminho.