Há quem sirva o café ralo,
quente, apressado, sem alma,
passa por cima da essência,
ignora a demora da calma.
E há o café especial,
moído à mão, com carinho,
cada grão uma história,
cada aroma um caminho.
No moinho do tempo girando,
o esforço é arte que pulsa,
quem gira a manivela com gosto
sabe que do amargo também se desfruta.
Pessoas são grãos também,
umas, colhidas verdes, desistem do sol,
outras, mesmo sob tempestade,
maturam e se tornam farol.
O bem-sucedido sorve devagar,
saboreia cada etapa, cada erro,
pois aprendeu que a vida exige
equilíbrio entre espera e desterro.
Já os que param no início,
fogem da dor do começo,
desconhecem que só há perfume
na flor que enfrentou o tropeço.
Há os que apenas experimentam,
por moda, por aparência,
mas o verdadeiro amante do fazer
tem no ofício a sua ciência.
É ele quem acorda cedo
para torrar o próprio destino,
mistura fé e técnica
na alquimia do seu moinho.
Porque empreender ou viver é isso:
não despejar água sem ver o grão,
mas sim, com alma e mão firme,
dar sentido à infusão.
Assim como o café se revela
no tempo certo, na pressão ideal,
o sucesso nasce em silêncio,
mas ecoa no ritual.
Entre desistir e insistir,
há o sabor de uma escolha,
o aroma do propósito,
e a xícara não transborda, recolhe.