Ideias e Devaneios IV
Cerbella ainda nos sopra no ouvido com um sorriso sutil.
Devaneio XIX – A Ponte Invisível entre Dois Sorrisos
Nem todos veem.
Mas entre um riso tímido e outro aberto, há uma ponte feita de cumplicidade.
Só atravessa quem já riu com o coração machucado, e mesmo assim, riu.
Ideia XX – O Bordado das Palavras Não Ditas
Tudo o que você guardou se costura num tecido que vive no avesso do peito.
Lá estão os “me desculpa”, os “te admiro”, os “fica mais um pouco”.
Um dia, esse bordado vira coberta.
E te esquenta na noite do silêncio.
Devaneio XXI – As Pegadas que Andam Sozinhas
Elas aparecem em momentos de dúvida.
Você olha o chão e vê que alguém já passou por ali, e se parece muito com você.
Talvez tenha sido você mesmo, em outro tempo, vindo te buscar.
Ideia XXII – A Fresta onde Mora a Esperança
Ela nunca está escancarada.
Está sempre entre uma dúvida e outra.
Entre o “não sei” e o “talvez”.
Mas basta um olhar mais demorado e... lá está ela: acenando com mãos de luz.
Devaneio XXIII – A Tempestade que Limpa por Dentro
Não é feita de vento nem de água.
É feita de verdades que você empurrou para os cantos da alma.
Quando chega, bagunça tudo.
Mas deixa o chão interno limpo, pronto para novos móveis.
Ideia XXIV – A Campainha dos Pensamentos Bons
Ela toca sem avisar.
E você lembra de algo que não lembrava que lembrava.
O abraço, o cheiro, a frase dita com ternura.
Você sorri.
Mesmo sem saber por quê.
Devaneio XXV – O Outono dos Apegos
As folhas que caem não são árvores desistindo.
São árvores confiando.
Elas sabem que o vazio de agora é o espaço do florescer depois.
Ideia XXVI – A Caixa de Surpresas Lentas
Demora a abrir.
Às vezes meses, às vezes anos.
Mas quando abre… traz exatamente o que você precisava, e não o que você queria.
Devaneio XXVII – O Marulho das Palavras Guardadas
Às vezes você ouve um barulho suave dentro do peito.
É o mar interno, onde palavras que não foram ditas nadam em círculos, esperando maré favorável.
Ideia XXVIII – O Caderno das Meias Verdades
Escreve-se nele com lápis de grafite lunar.
Ele só aparece quando você assume que não tem todas as respostas.
Ali, o talvez vira arte.
Continuamos a trilhar o caminho onírico onde a realidade dá licença à imaginação.
Devaneio XXIX – A Lua que Colecionava Promessas
Toda vez que alguém prometia algo olhando para o céu, ela anotava.
Um dia vai devolver todas, em forma de estrelas cadentes.
Ideia XXX – A Maleta dos Planos Não Vividos
Dentro dela cabem viagens sonhadas, palavras engolidas e mudanças adiadas.
Ela é leve… até o dia em que você decide abri-la.
Devaneio XXXI – O Cisne que Aprendeu a Esquecer
Cansado de guardar tudo, ele deixou as lembranças flutuarem pelo lago.
Agora, quem passa por ali pode encontrar um pedaço do que já foi amado.
Ideia XXXII – O Cubo de Gelo da Ansiedade
Segure-o até derreter.
Enquanto derrete, a pressa se transforma em tempo, e o medo, em respiração.
Devaneio XXXIII – O Sopro que Tira o Peso dos Pensamentos
Não vem do vento, vem de dentro.
E quando sopra, as ideias pesadas voam como penas.
Ideia XXXIV – A Varinha da Delicadeza
Não transforma sapos em príncipes, mas transforma grosserias em silêncio confortável.
É magia rara e urgente.
Devaneio XXXV – A Porta que se Abre com Olhar
Não tem chave, nem maçaneta.
Ela só cede quando alguém te olha de verdade, e você permite ser visto.
Ideia XXXVI – A Bolha do Agora
Dentro dela, não existe passado nem futuro.
Só o som do próprio riso.
Devaneio XXXVII – A Borboleta que Envelhece ao Contrário
A cada lembrança feliz, ela rejuvenesce um dia.
Por isso, vive pousando em gente que sabe agradecer.
Ideia XXXVIII – O Colchão dos Pensamentos Bons
Você deita nele e automaticamente se lembra de uma frase bonita que te disseram uma vez.
Acolhe. E some com a insônia.
Devaneio XXXIX – O Balão das Certezas Quebradas
Sobe, sobe… até estourar.
E então você percebe que estava se prendendo a certezas que não te levavam a lugar nenhum.
Ideia XL – O Livro que Só Se Lê com o Coração Partido
As páginas não aparecem quando tudo está bem.
Mas quando dói, ele se abre e cura com palavras nunca ditas.
Devaneio XLI – Os Óculos Que Enxergam o Invisível
Com eles, você vê a coragem no medo, o carinho no silêncio, o amor nas ausências.
Ideia XLII – O Trilho que Leva Pra Dentro
Não vai a lugar algum no mapa.
Mas te transporta ao ponto exato onde sua verdade cochila.
Devaneio XLIII – A Lanterna das Pequenas Coragens
Não ilumina o futuro inteiro.
Só o passo seguinte.
E às vezes, isso basta.
Ideia XLIV – O Bicho de Pelúcia dos Sentimentos Desbotados
Você abraça, e ele devolve a cor daquilo que você achava que tinha perdido.
Devaneio XLV – O Microfone do Que Nunca Foi Dito
Quando você fala nele, a voz sai do peito, não da garganta.
E quem ouve, escuta mais do que palavras.
Ideia XLVI – O Espelho que Mostra a Criança em Você
Só reflete quando você se cansa de fingir ser adulto o tempo todo.
Devaneio XLVII – O Mapa dos Lugares que Você É
Não mostra cidades.
Mostra momentos.
O abraço que virou lar. O olhar que virou rua. A dor que virou montanha.
Ideia XLVIII – O Controle Remoto das Emoções
Não serve pra evitar.
Serve pra pausar, observar e respirar.
Depois, continue.
Devaneio XLIX – As Pegadas Que Levam Pra Casa (Mesmo Quando Você Está Perdido)
Em todo caminho estranho, há sinais seus.
Você só precisa lembrar que é impossível se perder totalmente de si.
Ideia L – A Tinta Invisível das Boas Intenções
Elas não aparecem de imediato.
Mas ao longo do tempo, revelam desenhos de cuidado nas entrelinhas.
Devaneio LI – A Carta Que Nunca Foi Enviada
Ainda pulsa.
Na gaveta, no peito, no tempo.
Talvez seja hora de escrevê-la de novo, agora com coragem.
Ideia LII – A Semente Que Brota no Fim
Quando tudo parece ter acabado, ela rompe a terra.
É o ciclo dizendo: “ainda tem beleza em nascer de novo.”