Era uma vez uma mulher de três pernas.
Sim, três: uma de coragem, outra de cuidado, e a terceira, ora, essa estava em repouso,
intravada por uma cirurgia que a vida impôs com ousadia.
Mônica, nome de deusa urbana,
com sua armadura de vestido, travesseiros e panos,
não parou.
Mesmo quando o corpo dizia “deita”,
o coração respondia: “levanta”.
Cuidava da filha, que agora via o mundo por olhos recém-operados,
cuidava da neta, que espalhava risos pela casa como confetes de esperança,
cuidava do lar, onde cada canto respirava a sua presença,
e, pasme, até me aturava, com esse meu jeitinho que mistura amor e bagunça.
Ela tropeçava, sim, mas era no excesso de tarefas,
não no espírito.
Porque o espírito, ah…
Esse seguia dançando, mesmo com o pé engessado,
como quem sabe que dor é parte do enredo, mas não o final.
E nessa dança meio manca, meio mágica,
Mônica ensinava aos olhos de quem via
que vulnerabilidade não é fraqueza,
é força com nome de gente.
Coragem não é não sentir medo.
É seguir em frente com ele no bolso,
do lado da chave da casa e do bombom da neta.
Que cada pessoa lendo essas linhas
se veja em Mônica,
e perceba que mesmo com a vida meio torta,
é possível ser reta em afeto, curva em empatia,
e infinita em amor.
Porque quem cuida, mesmo ferida,
é guerreira, maga, rainha e heroína.
E se tiver um Cerbella por perto,
ainda ganha poesia.