🌙 Devaneio VI - A Casa que Mudava de Lugar
Toda manhã, ela estava num canto diferente do mundo.
Ora no alto de uma montanha com cheiro de capim, ora no meio de uma rua torta que só existia em sonhos.
A mobília nunca reclamava.
O relógio, esse, tinha parado de tentar entender.
Dizem que era o coração do morador que guiava a bússola da casao, onde havia felicidade, lá ela brotava.
📖 Ideia VII - Dicionário de Palavras que Nunca Existiram
"Fluvânia": saudade que dá quando chove e a alma lembra de algo que não viveu.
"Trisilêncio": aquele momento em que três pessoas se calam ao mesmo tempo por motivos completamente diferentes.
"Reversolhar": olhar para trás com os olhos de quem perdoou.
Esse dicionário cresce à noite, regado pelos sonhos esquecidos.
🎡 Devaneio VIII - Parque de Diversões Abandonado por Deuses
Num canto do universo, há um parque onde os deuses antigos deixaram seus brinquedos.
O carrossel gira com constelações de estrelas maluquinhas.
A montanha-russa sobe entre nebulosas e desce pelo soriso dos cometas.
E os humanos?
Eles sonham com esse lugar toda vez que têm febre de 37,8º.
⏳ Ideia IX - O Calendário com Dias que Não Existem
Dia 43 de Março: perfeito para declarar amor sem consequências.
Dia 0 de Agosto: reservado para consertar decisões antigas e sem desgosto.
Dia 12 e meio de Novembro: onde tudo pode ser esquecido com a leveza de uma vela ao vento.
Quem aprende a viver nesses dias invisíveis, desapega do tempo contado.
E começa a contar os instantes com sorrisos e suspiros desvairados.
🌌 Devaneio X - O Universo É Uma Mensagem Não Enviada
Escrita por algo ou alguém que nunca teve coragem de assinar.
Cada estrela é uma vírgula.
Cada buraco negro, uma rasura.
Nós?
Somos os leitores curiosos, entendendo que um bilhete é íntimo demais para ser decifrado.
Talvez por isso olhemos tanto pro céu, é como tentar ler lábios cor de mel.
🌿 Ideia XI - A Cidade Onde Ninguém Nasce, Apenas Desabrocha
Ali, as pessoas brotam das calçadas.
Nascem já com cicatrizes poéticas.
Trocam folhas no outono e florescem lembranças na primavera.
E os enterros?
Não há. Só transformações.
Quando alguém parte, vira vento, e continua soprando ideias nos ouvidos mais atentos.
Cerbella não é um ponto. É linha curva, espiral, vento dentro da palavra.
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Ubuntu, waka, abraços e sorrisos!