Lua, Mãe do Luar
Na rede da noite se tece um segredo,
Um sopro sagrado que vem sem enredo.
Não vem dos livros, nem da razão,
Mas de um instinto guardado na mão.
Vem da voz mansa, da vela acesa,
Do jeito que embala com tanta certeza.
É uma história contada ao ouvido,
Que acalma o choro e aquece o sentido.
Da avó pra filha, de mãe a menino,
Corre esse brilho suave e divino.
Não se escreve em papel, nem se ensina,
Mas mora na alma de quem se inclina.
A Lua que observa com olhos de prata,
Que escuta silêncios, que nunca se aparta,
É quem sabe os caminhos do sono e do pranto,
E transforma o cansaço num canto.
Ela cresce, ela some, ela volta a brilhar,
E com ela, aprendemos a respirar.
Nas fases que vêm, nas que vão embora,
A Lua consola, protege e ancora.
Seu brilho é conselho, sem dar opinião,
É luz que não pesa, é mão sem pressão.
E quando o cansaço parece vencer,
É pra ela que volto sem nem perceber.
Lua, luar,
Te entrego nas mãos esse filho,
E peço que me ajude a criar.
Cuida dos passos, dos dias sem cor,
Ensina a ternura, sussurra o amor.
Mostra que tudo tem sua estação,
Que o tempo ensina o que é coração.
Que cair faz parte do aprender,
E que quem ama, aprende a ceder.
Que ele sonhe sem medo do fim,
Que cresça inteiro, do começo ao sim.
E quando a noite quiser assustar,
Seja a Lua a vir embalar.
Na varanda, a mãe ainda sussurra baixinho,
Como a avó fez um dia, no mesmo cantinho:
“Lua, luar, leva o medo e traz esperança...
É em ti que confio a vida da vida.”
E se um dia eu não mais puder ficar,
Que essa luz o continue a guiar.
Pois quem ama de verdade não precisa estar perto,.
Basta brilhar firme, mesmo em céu encoberto.
E então, no silêncio da noite fechada,
A Lua se ergue alta, calma, dourada,
E responde sem palavras, só com o olhar:
“Quem é luz de criação... jamais deixa de cuidar."
Marcio Cerbella
Enviado por Marcio Cerbella em 04/05/2025