Planeta velho cansado,
Receba meu coração,
Sou cabra da Paraíba,
Trago verso e oração.
Aqui do lado de cima,
Mando a minha canção.
Te vejo correndo apressado,
Sem rumo, sem direção,
Perdendo o cheiro da terra,
Esquecendo a tradição.
Ó Terra, lembra teu povo:
Sonho é planta de estação.
Educar é muito mais
Que ensinar a decorar,
É botar estrela na testa,
É ensinar a caminhar.
É plantar no peito a ideia
De poder o mundo mudar.
Empreender, minha amiga,
É criar no chão rachado,
É ver flor onde há espinho,
É sonhar o improvável.
É fazer da dor beleza,
Do impossível, resultado.
Mas cuidado, ó Terra viva,
Que sem autoestima boa,
O homem vira raiz seca
Que o tempo leva na proa.
Ensina teu povo a ser
Fonte limpa que nunca escoa!
E equilíbrio, minha filha,
É mais preciso que ouro,
Quem não firma bem os passos
Tropeça até no tesouro.
É preciso ser macio,
E forte, no mesmo couro.
Seja fora do normal,
Não seja igual a ninguém,
Crie arte do seu jeito,
Pinte o mundo além do além!
Quem só anda no batido
Nunca descobre o seu bem.
Sorria, Terra bonita!
Sorria com valentia!
Que o sorriso é rebeldia,
Que abre a noite em pleno dia.
Quem sorri sem ter motivo
É profeta de alegria!
Termino esta carta humilde,
Com cheiro de chão molhado,
De palma, de chuva e sonho,
De canto desesperado.
O sertão ainda vai virar mar,
E o mar, sertão encantado!
Assinado em poeira e estrela,
Ariano Suassuna,
de onde a eternidade canta.